A trajetora da manutenção
Nos últimos anos o
conceito de Manutenção tem passado por mais mudanças que qualquer outra
atividade estrutural dentro de uma empresa. Tais alterações devem-se
principalmente ao advento de exigências, mudanças de cenário, aumento drástico
do número e diversidade de componentes, complexidade dos projetos, atribuição
de atividades, tecnologias de manutenção e principalmente o reconhecimento da
manutenção como função estratégica, atuando na melhoria contínua dos resultados,
tornando cada vez mais as organizações competitivas.
O recurso de
manutenção tem reagido rápido a todas estas mudanças, isto por exigência de
circunstância ou até mesmo uma questão de sobrevivência no mercado, dependendo
do setor de atuação. Aspectos como segurança, meio ambiente, ergonomia, saúde,
qualidade, prazo, custo e entrega trabalham sempre em conjunto com a
disponibilidade das instalações, fazendo com que se exija uma postura de
atitude e novas habilidades do principal recurso previsto para manutenção – o
mantenedor.
Segundo Moubray
(1992) a Manutenção pode ser dividida em três gerações, são elas:
A Primeira
Geração
A Primeira Geração
abrange o período antes da Segunda Guerra Mundial, com uma indústria pouco
mecanizada, equipamentos simples e superdimensionados.
O cenário também
não apresentava indícios de uma forte exigência da manutenção. A economia
passava dificuldades e a prioridade, portanto, não era a produtividade. Isto
fazia com que a manutenção não fosse exigida à altura. Somente observava-se
atividades de limpeza, lubrificação e reparos corretivos – não era percebido a
presença de uma manutenção programada. 17
O conceito quanto de falha era bem
simples “todo equipamento se desgasta e com o passar dos anos falha e quebra”.
Com esta concepção o perfil de competência desejado no Mantenedor era a pessoa
hábil e rápida no reparo.
A Segunda Geração
A segunda geração ocorre sob um cenário diferente, em
um pós guerra que compreende entre o período da década de 50 e 70, no século
passado. As baixas durante a guerra principalmente de homens, os quais
representavam a esmagadora maioria do setor produtivo, aliado à necessidade de
todo tipo de produto, exigiram uma melhor produtividade de diversos setores.
Isto refletiu no aumento da mecanização e na complexidade das instalações
industriais.
As mudanças começam a ocorrer e a manutenção é exigida
a acompanhar tais mudanças. A necessidade de disponibilidade maior, aliado a
confiabilidade, muda o conceito das falhas – percebe-se que elas podem e devem
ser evitadas, sendo isto somente possível com a antecipação de atividades, ou
seja prever a falha e agir antes. Surge a preventiva, ou manutenção planejada.
Em contra partida o custo com manutenção começa a
evoluir e apresentar representatividade nos custos operacionais, exigindo
técnicas e dedicação a um efetivo planejamento e controle da manutenção,
fazendo surgir os primeiros conceitos da manutenção moderna.
A Terceira Geração
A partir da década de 70 evidenciou-se a aceleração do
processo de mudança nas indústrias. Toda interrupção passou a gerar perda e por
conseqüência a obsessão por evitá-las teve que evoluir. Toda capacidade de
produção perdida era a perda de lucro, pois aumenta-se os custos. Os aspectos
de qualidade passaram a ser mais observados e exigidos. Estava instalada a
competitividade global, onde o aspecto custo vinha como pilar em diversos ramos
de atuação industrial. Estoque significavam custos, sendo assim buscou-se
estoques cada vez menores, conceito do sistema just-in-time, logo cada
interrupção, dependendo de seu tamanho, poderia gerar a paralisação de uma
linha inteira.
A busca pela redução dos custos obrigou a manutenção a
repensar o conceito de preventiva. Constantes intervenções tornavam o processo
caro, em contra partida não se
conhecia o exato momento da falha, isto
fez com que a manutenção fosse atrás da modernização, surgem as novas técnicas.
O conceito de manutenção preditiva passa a ser fundamental em algumas
aplicações, o avanço da computação trouxe softwares com capacidade para
processamento de planejamento e análise de dados para decisão, o enfoque na
confiabilidade passa a ser mais evidente, sendo empregado pela Engenharia de
Manutenção e mais tarde em um conceito mais estruturado chamado MCC -
Manutenção Centrada na Confiabilidade (RCM - Reliability Centered
Maintenance), apoiado nos estudos de confiabilidade da indústria
aeronáutica, com implantação iniciada no Brasil na década de 90.
O ato de manter como definição da palavra manutenção é
algo bastante simplório. Algumas definições sob diferentes pontos de vista
ajudam-nos a contextualizar interesses e visões de diferentes públicos. Segundo
o dicionário Aurélio, manutenção significa “as medidas necessárias para a
conservação ou permanência, de alguma coisa ou de uma situação” (Ferreira,
1999).
Para Slack et al (2002) “Manutenção é o
termo usado para abordar a forma pela qual as organizações tentam evitar as
falhas ao cuidar de suas instalações físicas. É uma parte importante da maioria
das atividades de produção, especialmente nas quais as instalações físicas tem
papel fundamental na produção de seus bens e serviços”. Empresas de manufatura
e produção apresentam grande dependência de equipamentos e instalações, isto
torna a representatividade da manutenção expressiva.
Para Smith et al (2004), a manutenção tem como
objetivo “preservar as capacidades funcionais de equipamentos e sistemas em
operação”. Moubray (1992) diz que o objetivo principal da manutenção é
“assegurar que itens físicos continuem a fazer o que seus usuários desejam que
eles façam”.
A norma SAE JA 1011 (1999) estabelece que a manutenção
deve garantir que “itens físicos continuem a desempenhar suas funções planejadas”.
Ainda em se tratando de norma, a NBR 5462 - ABNT (1994) define manutenção como
“a combinação de todas as ações técnicas e administrativas, incluindo as de
supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em estado no qual possa
desempenhar uma função requerida”.
Sob o ponto de vista de Lafraia (2002) a manutenção é
definida como o “conjunto de ações destinadas a manter ou recolocar um item num
estado no qual pode executar a sua função requerida”.
Lucatelli (2002) torna o conceito mais
amplo de uma forma diferente, considerando que o importante para o processo é a
função e não o componente, a reestruturação da manutenção sob esta visão é
considerada por ele uma “ruptura de um paradigma da manutenção”.
O porquê manter é algo que não mais intriga as
organizações, talvez a maior questão esteja em como manter. Como vantagens e
justificativas pode-se enumerar uma série, dentre elas (Slack et al, 2002):
Segurança de pessoas – grande parte dos
acidentes com pessoas e materiais está relacionada aos erros humanos associados
ao comportamento, porém uma parte menor, mas que não pode ser menosprezada,
pode ser associada as falhas dos equipamentos e instalações. Considerando que
operações bem mantidas apresentam uma menor possibilidade de falha, é objetivo
das organizações a busca incessante pela segurança das pessoas.
Segurança do meio ambiente – este é um
aspecto cada vez mais observado e exigido. Não se permite a uma empresa ter sua
imagem atrelada à algum acidente ambiental. Prejuízos com imagem, legislação e
sociedade são enormes diante de acidentes de grandes proporções, logo a
possibilidade de falhas relacionadas a este processo deve ser combatida ou
mantida sob controle.
Qualidade do produto ou serviço – o desempenho
abaixo do padrão ocasionado por equipamentos e instalações mal mantidos, acaba
por gerar falhas de qualidade nos produtos ou serviços oferecidos. Com um
controle de qualidade efetivo dentro da empresa, um problema como este gera no
mínimo retrabalho e custo.
Custo operacional – uma instalação bem
mantida, com o equilíbrio entre disponibilidade e custos com manutenção evita
surpresas e desperdícios. A gestão da manutenção atua diretamente e sob forte
impacto na gestão de custos de uma empresa.
Ciclo de vida – atuando de forma planejada é
possível prolongar o ciclo de vida de componentes, conjuntos, equipamentos e
instalações. Com o prolongamento do ciclo de vida, pode-se ter um
aproveitamento maior do equipamento frente a sua depreciação, isto interage
diretamente também no valor de revenda no mercado. É indiscutível que algo bem
mantido apresente melhor valor de revenda frente ao contrário.
Confiabilidade – é o principal objetivo do recurso
de manutenção, sendo sempre considerado em conjunto com outro importante
aspecto, o custo. A disponibilidade da instalação e equipamento é algo
fundamental para entrega no prazo e com qualidade. Em geral, é difícil ganhar
dinheiro quando não se produz.